Bolsonaro tirou o meu sono
Não sei se me preocupo mais com as primeiras ameaças sobre o tenebroso Coronavírus ou com o que tenho ouvido de ontem para cá. Cheguei a pensar que ouvi demais, ontem de manhã, quando entrevistei, aqui no programa, o médico e deputado federal Osmar Terra. A ideia central é que está na hora de ir afrouxando o cinto.
A entrevista que fiz ontem com o deputado médico gaúcho Osmar Terra reforçou o que eu disse. Só que ele fez isso no tom mais agressivo, duvidando da palavra das autoridades e até incitando todos nós a acreditar no contrário. Muitos ouvintes reagiram achando que foi exagero dele. Também pensei assim.
No final da tarde o governador Carlos Moisés - que saiu da inércia como governante para um habilidoso gestor da crise - veio no mesmo tom que usei no texto de ontem. Disse que dá para ir afrouxando o cinto, liberando alguns setores. O prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro também falou em ir retomando vida normal. Voltar lentamente à normalidade com cuidados com os idosos, mas ainda com a recomendação de que fiquem em casa. Quer dizer, que fique em casa quem pode. Entendi assim.
Ontem à noite o presidente Jair Bolsonaro veio num tom da contramão desta cautela. Libera geral foi o que entendi. Parece que é o que eu e muita gente entendeu. Bolsonaro criticou que tenham sido usados exemplos como os da Itália para o que ele chamou de amedrontar a população brasileira. Juro, não entendi.. Afinal, o próprio elogiado Ministro Mandeta usou aquele exemplo para justificar as medidas até então adotadas.
Devemos sim voltar à normalidade, mas do jeito que o presidente falou ontem parece “zerar” o que temos feito até então.
O presidente foi claro e direto e disse: “Algumas poucas autoridades devem abandonar o conceito de terra arrasada e abandonar a proibição de transportes, o fechamento de comércios e o confinamento em massa.
Sou disciplinado tenho certeza. Acho que sou consciente no uso do poderio de um microfone, por isso repito com cautela o apelo para que se respeitem os decretos das autoridades, mas a minha cabeça agora bagunçou.
O presidente me deixou em dúvida. Do alto da sua autoridade e popularidade jogou aos leões os governadores e prefeitos.
O presidente me parece com sangue nos olhos com a Globo, com os governadores Witzel (Rio de Janeiro) e Dória (São Paulo). Por isso fez um pronunciamento num tom que me amedronta quando esta retomada das atividades.
Ainda ontem à noite os Secretários de Saúde do Estado se reuniram e em nota discordaram do presidente. Os presidentes da Câmara e Senado também reagiram. Acho que este vai ser o tom dos governadores e prefeitos.
Só espero que não nos restrinjamos apenas a uma briga política.
É só o que a gente não precisa.
Contra este vírus da vaidade política também não há vacina e os prejuízos que ela causa são tão ou mais mortais quanto os de outros vírus ou crises econômicas.