Deu para o Moro...
E começamos uma semana cheios de dúvidas, tentando entender um novo tsunami. Para muitos a primeira palavra que vem à mente é “decepção”. Aliás, você já parou para pensar quantas frustrações e decepções teve? Em quantas pessoas já depositaste a sua esperança? Esperança que virou frustração.
No calor da política isso é ainda mais frequente e forte. Os acontecimentos da última sexta-feira ainda não estão absorvidos por nós brasileiros. A massa que se pôs a defender com unhas e dentes os representantes de um novo tempo sofreu um duro golpe. Decepcionou-se, por certo. Uns com um, outros com outro e há os que se decepcionaram com ambos. Me refiro ao presidente Bolsonaro e ao Ministro Moro, símbolos da esperança brasileira.
Esperança que não se deve perder pelos episódios recentes. Prefiro chamar atenção ao que não canso de repetir: cuidemo-nos. Não permitamos que a cegueira afete a nossa visão. Não nos deixemos levar pela emoção, nem pela paixão. Não é tempo de considerar o jogo perdido. Este é apenas mais um episódio da política brasileira. Não dá para sentenciar culpado, nem um, nem outro. Nem Bolsonaro, nem Moro. É que a gente, às vezes, demora entender o jogo.
Parece evidente que Bolsonaro não perdeu este jogo. Moro não perdeu, mas também não ganhou. É como se esta disputa fosse para a prorrogação e penaltis. Parece aquele jogo em que o empate desclassifica os dois. Pois é o que parece. Só tem perdedores. Deste embate não há ganhadores.
Devemos lembrar que este jogo está disputado no campo da política. Moro pode ser o favorito, mas não está acostumado a este jogo. Bolsonaro pode estar fragilizado, mas joga no campo que ele conhece bem: o da política. Moro entrou num jogo que ele não conhece. E olha deveria ter se adaptado, afinal, quando juiz de primeira instância, esteve sempre sujeito a ter as suas sentenças reformadas.
Na política este jogo não é assim. Diferente da Lava Jato, no Ministério Moro mostrou pouco serviço. Ficou devendo. Moro não saiu pela interferência de Bolsonaro. Saiu porque estava procurando a saída. A interferência de Bolsonaro não é assim tão inédita como alguns tentam fazer ver, mas é grave sim.
Nem que com suas denúncias Moro fragilize Bolsonaro a ponto de facilitar o caminho do impeachment, terá sido ele: Moro, o ganhador deste jogo. As aves de rapina estão ali, bem perto: na Câmara, no Senado e no Supremo.
O gesto de Moro em pouco ou nada o ajudará a pavimentar o caminho da presidência da república, se esta for a sua intenção daqui por diante. Moro não é do jogo da política. Moro é um Joaquim Barbosa. Barbosa saiu consagrado do Supremo, mas logo viu que na política, ou você joga o jogo, ou está fora.
Melhor então ficar com quem joga o jogo o mais próximo do limpo possível. Que se disponha a jogar. Que se submeta a uma campanha de rala chão, percorra o país, invista 24 horas por dia, sete dias por semana. E me desculpem os admiradores de Moro, o conforto dos gabinetes não lhe deu essa experiência, nem paciência. Moro saiu de onde nunca entrou: a política. E como herança pode ajudar a sujar o que ele mesmo ajudou a limpar. Deus queira, esteja eu errado.